entrego

- Corta essa, maluco!
Era tudo que ele precisava dizer antes de dar três tiros naquele merda. Um no olho direito, outro no meio do tórax, e naquela maldita garganta. Pausadamente. Agora ele teria que falar com o capeta em libras. Como minha alma agradeceria a divina sensação de ser mirado por aqueles olhos assustados, me vendo por um ângulo fotográfico que me deixa mais bonito, mais narciso. E eu lá de cima, retribuindo a fixação com minhas sobrancelhas altivas. Entraria na sorveteria, tomaria um sorvete de maracujina enquanto fumava um cigarro com biteira. Não conseguiria ouvir o caos sonoro que os delinquentes daquela rua sem graça provocava, mas sentia o sangue secando sobre os paralelepípedos aquecidos tão uniformemente pelo sol. E eu contemplava minha arte como quando reparo nas de Dalí. Aquilo sim era surrealismo! Mas então, os sentimentalistas sufocariam minha escultura e a polícia chegaria cortando o barato de minha exposição. Me entrego e aceno. Tenho orgulho de meu talento. Tenho o ego quando invento.

Um comentário:

Giuliano Marley disse...

FIRST!!!

Desculpe-me...


Um outro "Si sente."? Talvez estejam errados sobre os raios.


Que miniconto mais massa, hã!? Parece até um fragmento de um livro. É redundante dizer coisas como "muito bom".