O fato de eu querer costurar a boca dele com seus dois olhos dentro não me torna tão malvado assim. Mesmo que com uma agulha em alta temperatura e linha com cerol. Assim, seria difícil ele ‘falar’ em libras ou pantomima o que havia dito esse tempo todo. Amputaria seus dedos por garantia, mas substituiria por lápis com tabuada – para deixar uma aparência menos hostil. E também o enfeitaria com um colar fixo de alfinetes milimetricamente dispostos ao redor do pescoço. Ah, essas leis, essa moral, a cadeia... Se não fosse isso já teria feito e rido tanto. Estaria morto, mas satisfeito. Por isso, terei que esperar o fim do mundo chegar de fato, porque, como vês, em minha mente ele acontece o tempo todo. Às vezes somos questionados com questões que nos fazem refletir sobre o que faríamos se o mundo acabasse amanhã. Mas um dia é muito pouco. Tem crueldades que duram mais de um dia. Não dá tempo! Esse aviso, alerta, ou nesse caso, conselho que circula por aí dizendo que o mundo acabará em 2012 é proveitoso. Um Carpe Diem eufêmico. Mas infelizmente, na minha lista de coisas-apocalípticas-para-fazer constam na maioria itens que mexerão com a moral a que me foi atribuída e com as leis. Eu seria preso e não poderia completar a lista, nem veria a claridade do fim do mundo pelas lentes de um rayban ao lado de um mendigo. O mundo atual não me deixa fazer tudo a tempo, porque antes do mundo poder acabar as leis deveriam virar ficção antes. Daí então, eu poderia ‘me atirar na orgia’ e o próprio mundo acabaria antes do prazo.
entrego
- Corta essa, maluco!
Era tudo que ele precisava dizer antes de dar três tiros naquele merda. Um no olho direito, outro no meio do tórax, e naquela maldita garganta. Pausadamente. Agora ele teria que falar com o capeta em libras. Como minha alma agradeceria a divina sensação de ser mirado por aqueles olhos assustados, me vendo por um ângulo fotográfico que me deixa mais bonito, mais narciso. E eu lá de cima, retribuindo a fixação com minhas sobrancelhas altivas. Entraria na sorveteria, tomaria um sorvete de maracujina enquanto fumava um cigarro com biteira. Não conseguiria ouvir o caos sonoro que os delinquentes daquela rua sem graça provocava, mas sentia o sangue secando sobre os paralelepípedos aquecidos tão uniformemente pelo sol. E eu contemplava minha arte como quando reparo nas de Dalí. Aquilo sim era surrealismo! Mas então, os sentimentalistas sufocariam minha escultura e a polícia chegaria cortando o barato de minha exposição. Me entrego e aceno. Tenho orgulho de meu talento. Tenho o ego quando invento.
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